domingo, 30 de janeiro de 2011

O Egito a caminho da Revolução: o que fazer?

Caríssimos leitores, mediante as convulsões que estão efervescendo social e politicamente o Egito, achamos por bem desta vez trazermos à vossa apreciação um texto bastante instigante de outro autor.  Acreditamos que sua leitura irá oferecer-nos uma noção panorâmica sobre os acontecimentos que estão sacudindo a população egípcia. Boa leitura a todos.

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados. O artigo é de Reginaldo Nasser (*).
As mobilizações populares na Tunísia, Egito, Iêmen e em outros lugares são um alerta para o chamado mundo desenvolvido e seria uma grande avanço para a democracia se esta região que permanece imersa na violência, em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio internacional nesse momento.
O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que os EUA poderão revisar a ajuda ao Egito. O presidente Obama solicitou às autoridades egípcias que evitem o uso de qualquer tipo de violência contra manifestantes pacíficos, alertando que " aqueles que protestam nas ruas têm uma responsabilidade de expressar-se pacificamente. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que a “estabilidade do país é muito importante, mas não a qualquer preço”. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu que "os líderes do Egito escutem as preocupações legítimas e os desejos de seus cidadãos”. O primeiro ministro britânico David Cameron declarou: “Eu acho que precisamos de reformas. Quero dizer que nós apoiamos o progresso e o reforço da democracia”.
Como avaliar a atitude desses líderes mundiais? Patética, cínica, hipócrita, irresponsável? Talvez devêssemos recorrer a um grande pensador liberal do século XIX, Aléxis de Tocqueville, e ouví-lo a respeito dos períodos revolucionários na França. Tocqueville alertava para o fato de líderes, que adquiriram experiência em lidar com a política em ambiente de ausência de liberdade, quando se encontraram diante de uma revolução que chegou “inesperadamente”, se assemelhavam aos remadores de rio que, de repente, se vêem instados a navegar no meio do oceano. Os conhecimentos adquiridos em suas viagens por águas calmas vão proporcionar mais problemas do que ajuda nessa aventura, e na maioria das vezes exibem mais confusão e incerteza do que os próprios passageiros que supostamente deveriam conduzir.

Já havia sinais reveladores dessas turbulências, mas o Ocidente preferia se preocupar com burcas, minaretes e terrorismo. Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2009, informava que os países árabes importavam cerca de 60% dos alimentos que consomem e já são os maiores importadores de cereais no mundo, dependendo de outros países para a sua segurança alimentar. A elevação dos preços nos mercados mundiais, desde 2008, já causou ondas de protestos em dezenas de países e milhões de desempregados e pobres nos países árabes, como foram os casos da Argélia , em 1988, e da Jordânia em 1989. Um exemplo mais recente, além da região árabe, é o Quirguistão onde um aumento da eletricidade e tarifas de celulares causaram manifestações com dezenas de mortos e milhares de feridos. 

Aqueles que temem o crescimento do “islamismo radical” como fator de instabilidade nessa região, deveriam estar mais atentos em relação às “ditaduras amistosas” que, na verdade, são as principais responsáveis pela insegurança no mundo. Desemprego em massa, preços dos alimentos e repressão política é uma combinação explosiva mais perigosa do que os homens bomba.

A demografia no mundo árabe é também um grande problema. A população cresceu cinco vezes durante o século XX, e o crescimento continua a uma média anual de 2,3%. A população do Egito está em torno de 80 milhões. Em 2050 (de acordo com projeções da ONU) deverá ter 121 milhões. A população da Argélia irá crescer de 33 milhões em 2007 para 49 milhões em 2050; a do Iêmen de 22 a 58 milhões. Isso significa que mais empregos precisam ser criados - e mais alimentos importados, ou aumentar a capacidade para produzir mais. No caso do Egito dois terços da população são jovens abaixo de 30 anos, dos quais 90% estão desempregados. 

Baseada no turismo, na agricultura e na exportação de petróleo e algodão, a economia é incapaz de sustentar a taxa de crescimento demográfico. 40% da população vive com menos de US$ 2 (R$ 3,30) por dia, o país está na 101ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

De certa forma a auto-imolação do jovem tunisiano, Mohamad Bouazizi, que deflagrou a onda de protestos na Tunisia revela, no nível individual, aquilo que está acontecendo nas sociedades daquela região como um todo. Ele não se rebelou, apenas porque não encontrou trabalho que refletisse suas ambições profissionais, mas sim quando um oficial da polícia confiscou as frutas e legumes que estava vendendo sem autorização. Quando foi fazer uma reclamação para buscar justiça, sua demanda foi rejeitada. 

Provavelmente foi este sentimento de injustiça que levou Mohamed Bouazizi e milhares de pessoas às ruas, empenhados em quebrar o ciclo da miséria e opressão.

Talvez seja mais confortável para a chamada comunidade internacional lidar com um mundo árabe dividido entre nacionalistas, relativamente seculares, de um lado e islamismo radical, de outro, do que um mundo mais complexo, com problemas econômicos, sociais e políticos que conta com sua cumplicidade.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC-SP

sábado, 22 de janeiro de 2011

"Jornalismo Acidental": a invenção da realidade



Alguém já se perguntou por que lemos o que lemos nos jornais diariamente? Quando dedicamos alguns segundos de reflexão sobre a lógica que operacionaliza o "fazer jornalístico", nos damos conta do quão importante é estarmos com os olhos bem abertos para atentarmo-nos àquilo que não está escrito.

O jornalismo produzido atualmente está inserido numa esfera acidental, baseado num conceito de "notícia" que estabelece a relevância de determinados fatos e a sua publicização em detrimento de outros, considerados não-noticiosos.

Ao se analisar essa conjuntura, é perceptível uma inversão da racionalidade pela irrupção do "inusitado", do "estranho", do "anormal". Em outras palavras, aquilo o que hoje em dia se estabelece como notícia é tudo o que foge à "normalidade" das coisas, ao princípio racional que rege a sociedade.

O que desperta o desejo do jornalista pela notícia não é o "lugar-comum", mas tudo aquilo que está "fora do lugar". O depósito onde repousa a curiosidade humana é revolvido quando algo incomum acontece, e, para saciá-la, surge a necessidade de se investigar as forças motivadoras que levaram à consecução do fato jornalístico e à divulgação dos resultados dessa investigação através dos veículos midiáticos.

Nesse processo de identificação do "irracional" - já que ainda se quer buscar sua explicação -, o produto final (a informação) levado ao conhecimento do público acaba por deixar marcas, vestígios, cicatrizes na realidade observada, envolvendo tanto o observador quanto o objeto pesquisado, investigado.

E isso altera a substância do mundo das coisas, das pessoas, das instituições, pois efeitos são gerados, sentimentos produzidos, sensações experimentadas, ações desenvolvidas e eventos transcorridos.

A informação veiculada suscita, pois, diferentes reações que podem ser de comoção, surpresa, espanto, admiração, até mesmo de indiferença por parte do leitor. Isto sem mencionar o caráter coercitivo que muitas outras informações carregam consigo, em seu substrato estrutural.

Interessante mesmo é percebermos que todas essas "experiências" acabam por se acumular na memória em forma de registro, através de um discurso histórico que busca o encadeamento lógico dos eventos à luz de análises interrogativas formadas pela influência do presente sobre o que já passou.

Eis a pedra angular que corrobora as tranformações substanciais ocorridas no mundo das coisas e das pessoas: o registro das ações humanas, o que possibilita o seu revisitamento infinito pelas gerações contemporâneas e vindouras, ressignificando experiências vividas que tiveram forte influência do tempo e do espaço em que foram produzidas e influenciaram (influenciam) todos os que a elas puderam ter acesso.

Apesar disso, muitos ainda desconhecem os procedimentos para se chegar à divulgação de informações. O mundo real, ao ser transmitido pela imprensa, é fragmentado, particularizado, decomposto, e, seletivamente, ocultado, descaracterizado, inventado, ficcionado.

Ao se estabelecer, mediante "juízos de valor" hierarquizantes, o que deve e o que não deve ser noticiado, conhecido, o mundo se transforma mais uma vez. As possibilidades de investigação repousam não apenas no que foi divulgado, mas também no que foi silenciado, ocultado.

As feridas, portanto, que o "jornalismo acidental" produz no universo das pessoas e das coisas não são particulares e específicas somente ao mundo "visível", noticiado, divulgado, artificialmente criado, e sim, também, ao mundo "invisível", real, concreto, silenciado e ignorado.

Hugo Freitas

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um Tsunami que Veio do Céu


Assim podemos nominar a tragédia que se abateu sobre a região serrana do Rio de Janeiro. Após o fogo das armas, é a água das chuvas que provoca novamente horror e desespero na população carioca.

Uma semana depois de um dos maiores desastres naturais da história do Brasil, o Rio de Janeiro ainda conta seus mortos. O número de vítimas aumenta a cada dia. A cada instante, mais corpos são encontrados. 

Até este momento, em que chega à vossa apreciação estas analíticas linhas textuais, que nem de longe conseguem transmitir em signos o significado cru e cruel da catástrofe carioca, sensível leitor, já foram computadas mais de seiscentas e cinquenta vidas ceifadas pelo tsunami que veio do céu.

Os moradores das cidades atingidas sobrevivem num verdadeiro estado de calamidade pública. O caos é visível diante da destruição de pontes, interdição de estradas, bairros isolados, além da falta de água potável, luz e telefone e, principalmente, de alimentos para os milhares de desabrigados e desalojados que se amontoam em ginásios e galpões, sem contar os riscos de doenças a que estão submetidos pela falta de material de higiene e de limpeza e pela escassez de medicamentos.

Mas, afinal, tragédias como essas realmente poderiam ter sido evitadas? Se sim, então de quem é a culpa?Minha? Sua? Nossa? Dos governos? Da natureza? De Deus? Ou do acaso (que muitos chamam também de destino)?

A realidade é que a culpa bem que poderia ser de "todos nós". Somos nós que subimos os morros em busca de moradias mais baratas, apesar dos riscos oferecidos pela geografia do local. Nós que procuramos deliberadamente morar no alto, porque "aqui embaixo as leis são diferentes".

Somos nós que, muitas vezes, nos regozijamos em ter um rio no fundo do quintal, sem nos darmos conta de que estamos no "quintal do rio". Nós que aplaudimos de pé a ineficiência de políticas públicas de urbanismo e habitação só para promovermos o crescimento desordenado a nosso bel-prazer.

Somos nós que atribuímos à força da natureza o alto grau de destruição da enxurrada que varreu as cidades de Nova Friburgo e Teresópolis, dentre outras, mas que, ao mesmo tempo, exaltamos as belezas naturais da "Cidade Maravilhosa" para vendê-la bem aos olhos do turista estrangeiro. Seria isso uma contradição, uma hipocrisia ou uma fatalidade?

Somos nós, ainda, que nos questionamos: "Por quê, meu Deus?", diante de tamanha desgraça, e, logo em seguida, nos apegamos ainda mais fortes com a nossa fé, exultando: "Obrigado, Senhor, por ter preservado a minha vida!", como que esquecendo, por um instante, de todas as outras que foram levadas para o "julgamento" sem piedade, sem o momento do "adeus", somente o presente "a Deus".

Também somos nós que nos submetemos ao pagamento de quase todo o salário do mês inteiro para assistirmos Ronaldo e Adriano jogarem (e ainda vamos pagar mais caros para ver o Gaúcho passar) e exigimos vociferantes que dêem tudo de si para compensar o alto investimento num lazer embasbacado, mas que perdemos o mesmo ímpeto da exigência ao nos rendermos à animosidade de esperar tudo acontecer.

Que bom seria se o brado que ecoa pelos gramados do Rio em dias de "Fla-Flu" tivesse a mesma força para cobrar dos responsáveis o ressarcimento pelo luto doloroso das famílias que choram seus mortos, encontrados ou desaparecidos.

Finalmente, somos nós, leitor companheiro, que divagamos em busca de explicações e culpados para satisfazer a nossa própria (in)consciência de não assumirmos a culpa que nos aflige: a de reafirmamos continuamente que tudo não passou de uma trágica fatalidade.

Hugo Freitas

sábado, 8 de janeiro de 2011

"Filhos da Precisão": O Alto Preço do Ensino Superior "Gratuito"



Alguém já se perguntou por que é tão caro estudar numa universidade pública e "gratuita"? Os altos preços já são cobrados logo na inscrição para quem quer ter acesso ao ensino superior e para aqueles que querem se qualificar ainda mais.

Quem aspira a uma vaga nas universidades públicas brasileiras deve ter em mente que irá desembolsar grandes somas em dinheiro durante o tempo de estudos. A começar pelas abusivas taxas de inscrição. E não venham falar os críticos que existe a tal famigerada "isenção". Quantos "sortudos" são contemplados com ela?

A realidade da maioria dos candidatos que estão concorrendo a um dos cursos da Universidade Estadual do Maranhão, por exemplo, é que eles têm que desembolsar R$ 75,00 só para entrar na disputa por uma vaga.

Depois que entram, os alunos gastam ainda com as xerox dos inúmeros textos que são cobrados pelos professores, sem contar as despesas diárias com transporte e com alimentação (no caso da UEMA, por enquanto, o almoço ainda é sem ônus imediato para o alunado, mas na Universidade Federal do Maranhão, a refeição matinal custa em torno de R$ 1,50 diários).

A situação piora quando se tenta buscar uma qualificação através da pós-graduação. A UEMA, por exemplo, lançou o edital para o Curso de Especialização em História do Maranhão cobrando dos candidatos além da taxa de inscrição no valor módico de R$ 20,00, as tarifas semestrais na bagatela de R$ 250,00, durante os dezoito meses de duração do curso.

Isto implica dizer que aqueles que adentrarem na pós em comento terão que desembolsar no cômputo geral um total de R$ 770,00, sem contar os gastos com as xerox que, obviamente, tenderão a ser maiores, já que na pós os textos trabalhados em sala de aula geralmente são livros inteiros.

Paralelamente a essa quantia, quem se inscreveu para o Mestrado em Ciências Sociais da UFMA, por exemplo, teve que pagar uma taxa de R$ 150,00. Já para o Mestrado em Políticas Públicas, o valor da inscrição era de R$ 200,00. Porém, nos dois casos, os valores cobrados são únicos. Os alunos não pagarão mais nada, além das xerox, é claro.

No entanto, todas essas despesas durante a graduação e a pós-graduação requerem, no mínimo, que os alunos tenham um forte "pai"trocínio ou que já trabalhem, o que é uma realidade para a maioria dos estudantes maranhenses.

Será que isto explica, em parte, o péssimo rendimento da educação no Maranhão, a segunda pior do Brasil? Afinal de contas, trabalhar e estudar requer uma carga de doação e sacrifício bem maior do que aqueles que apenas estudam, os ditos "estudantes profissionais", em sua maioria filhos da classe média alta, dos empresários e dos políticos beneplácitos com a situação magistral do nosso Estado.

Já os "filhos da precisão" tem de contar com os baixos salários pagos por estas maranhas que, muitas vezes, mal dá para pagar as contas do mês, quiçá sobrar algum trocado para dar cabo de bancar a alimentação familiar, saúde, transporte, vestuário, e ainda investir nessa "cara educação gratuita".

Enfim, prezado leitor, a quimera da "educação para todos" esbarra no funil econômico que a oblitera e que apenas alimenta o abismo educacional que separa quem tem dinheiro de quem não tem.

Hugo Freitas


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os Grilhões do Maranhão




Mais um resultado negativo alcançado pelo nosso glorioso Maranhão: 2º lugar no ranking do trabalho escravo no Brasil.

Gostaríamos muito de termos iniciado o ano de 2011 com um texto que retratasse algum aspecto louvável e digno de publicação concernente a este torrão da República. Porém, a lista divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) não quis que isso acontecesse.

Infelizmente, o Maranhão adquiriu para sua fétida coleção mais um índice vergonhoso. Empatando com Tocantins, que também registrou 22 casos de pessoas físicas e jurídicas cometendo o crime de exploração de mão-de-obra em regime análogo à escravidão, o Maranhão ficou atrás apenas do Pará, com 57 ocorrências.

O levantamento do MTE é o exemplo clássico de que as coisas continuam não indo nada bem por estas bandas, apesar de todo o escarcel montado pelas classes dirigentes e pela mídia complacente que afirmam justamente o oposto.

Oposição. Esta é a palavra que define bem mais esta medalha meritocrática conquistada pelo Estado, que há bem pouco tempo subiu ao podium para receber o seu trófeu de segunda pior educação do país, perdendo o título para Alagoas.

Mas por que oposição? Você deve estar se perguntando, atencioso leitor. Oposição no sentido de separação mesmo. Senão vejamos: de um lado a classe política do Estado exaltando o desenvolvimento latente de uma economia que, desde a época áurea da agroexportação das lavouras de arroz e do plantio de algodão, nunca significaram a diminuição da pobreza da maioria da população, que, por seu turno, sempre esteve do outro lado da margem do rio, alijada do processo de lambuzamento junto às doces benesses capitalistas.

Além disso, oposição no sentido de que as forças econômicas e políticas dos grandes proprietários de terras nunca se sentaram na mesma mesa dos trabalhadores rurais, que se submetiam (e ainda o fazem) às agruras de um sub-emprego por não terem melhores perspectivas muito menos outras oportunidades.

E mais, oposição sob a ótica do silêncio, uma vez que praticamente quase todos os veículos midiáticos fecharam os olhos para o sofrimento histórico vivido pelos trabalhadores maranhenses do campo - submissos e bestializados pelos latifundiários em troca de um punhado de moedas - desviando-se assim de seu papel fundante e primordial: o interesse social.

Finalmente, oposição no sentido GOVERNO X POVO. O primeiro porque se apóia no segundo apenas para dar legitimidade a si próprio e, ao mesmo tempo, subjuga-o utilizando-se dele como mera massa de manobra eleitoral.

Já o povo se apóia no governo e nas perspectivas bienais de mudança para tentar respirar um ar mais puro e mais leve, adquirindo novo fôlego para suportar a fauna diária e continuar na batalha corriqueira de tentar sobreviver com o suor de seu rosto e com um "honroso" salário mínimo como recompensa.

Mas, à medida que o povo apenas alimenta a "esperança" por dias melhores e não lhe resta mais força para pensar em outra coisa a não ser em sua sofrível sobrevivência, ele afasta-se de si mesmo, faz oposição a si próprio, pois abre mão de sua dignidade e de seu verdadeiro poder para entregá-los a quem supostamente deveria zelar por eles.

E, nesse estado contínuo de simbólica e crível oposição, muitos preferem menos as asas sem destino da liberdade do que o beijo amargo da consentida escravidão.

Hugo Freitas