sábado, 25 de fevereiro de 2012

CHORAR ENGRANDECE

Anna Karina no filme "Viver a Vida"

Eis mais uma, entre as tantas, vantagens das fêmeas sobre os marmanjos: a coragem, o destemor, a arte de chorar em público.

Se o choro vem, as mulheres não congelam as lágrimas, como os moços, esses moços, pobres moços…

Não guardam as lágrimas para depois, como nós, que sempre adiamos as cachoeiras interiores, não levam as lágrimas para derramar escondidos na alcova.

Pior ainda é o homem que não chora nunca. Além de fazer mal ao coração, esse tipo não merece muita confiança.

As mulheres não, falo da maioria das fêmeas, desabam em qualquer canto e hora. Se estão mal de amor, choram na firma, no escritório mesmo, na fábrica, choram no trânsito, choram no metrô, simplesmente desabam.

Como invejo as lágrimas sinceras das moças.

Quantas vezes a gente não se preserva, por fraqueza, enquanto as lágrimas, em queda d´água, batem forte no peito machista e viram apenas pedras do gelo do uísque.

Como invejo as mulheres que misturam sim o trabalho com o drama furioso da existência.

Desconfio da frieza profissional, das icebergs de tailleur, que imitam os piores homens e guardam tudo para molhar o travesseiro solitário numa noite de inverno.

Ora, as mulheres podem ser infinitamente poderosas, administrarem plataformas de petróleo nos mares e chorarem um atlântico diante de uma indelicadeza da vida.

Lindas e comoventes as mulheres que choram em público, nas ruas, nos cafés, nos bares, nos restaurantes, no táxi. São antes de tudo umas fortes. Tristes dos que estranham ou ficam envergonhados com o mais verdadeiro dos choros.

Triste dos que acham que não levam a sério, que tratam como sintomas da TPM e chiliques do gênero, que fracasso. Ora, até mesmo os choros de varejo, não importam as causas, são comoventes. Chorar engrandece.

Fazer amor depois de lágrimas, então, é sentir o sal da existência, romanticamente, sem medo de ser ridículo ou cafona.

Acabei de testemunhar uma dessas lindas e corajosas moças, chorava no metrô da avenida Paulista.

Por que chorava aquela moça?

A moça não escondia os soluços do choro. Terá discutido a relação, a velha D.R., à boca da estação Paraíso? Veste roupa de trabalho sério, e chora.

Daqui a pouco estará sentada na sua cadeira de secretária, exímia, bilíngüe, a serviço da grana “que ergue e destrói coisas belas”.

Teria levado um pé-na-bunda, um fora? Teria visto o casamento pelo binóculo do titio Nelson Rodrigues? Perdoa-me por me traíres?

A moça que chorava sabia que o amor -repito o que já disse mil vezes no blog- é como o metrô na avenida Paulista: começa no Paraíso e termina na Consolação.

4 comentários:

  1. o ato d chorar é intrigante, tem choro q tem q ser compartilhado msm, tem q ser divulgado, pq é bonito d se ver, já outros precisam ser segredados melhor q ninguém saiba msm!! rsrs...valeu!!lindo!!

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    1. Boa observação!!! Obrigado pela participação.
      Abraços fraternos.

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  2. Boa tarde Hugo Freitas, que belo jogador é o XicoSá, com palavras o jogo é mais difícil do que com a bola no pé. Deve ser o XicoSá um excelênte poeta para tantos recuros. Parnens pelo seu texto, pela sua escolha e, por entender que na vida precisamos de vez enquanto nos sentir felizes! Abraços Reinaldo Cantanhêde Lima

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  3. Sem dúvida, Reinaldo. Um excelente texto esse do Xico Sá.
    Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente quando de sua visita a São Luís, no final do ano passado.
    O cara é um artífice da palavra. Escreve sobre diversos assuntos e, especialmente, sobre o universo feminino.
    Fico feliz que pessoas como você tenham gostado. É sempre bom lermos coisas que engrandecem a nossa alma, mesmo sendo sobre o ato de chorar.
    Abraços fraternos.

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Grato pela participação.