terça-feira, 3 de setembro de 2013

RAIMUNDO CUTRIM E A "MUDANÇA" PREGADA POR FLÁVIO DINO

Deputado Cutrim deixa a "oligarquia Sarney" em busca de poder ao lado do "comunista" Flávio Dino

Por Hugo Freitas
Sociólogo e Historiador

Toda movimentação política parece vir precedida de uma lógica discursiva de justificação para apresentar ao seu eleitorado os argumentos que expliquem, em certo sentido, o porquê de uma ruptura ou de uma aliança.

Mas o que está acontecendo com o PCdoB no Maranhão é algo que deverá figurar na história política do Estado como o mais nítido exemplo da lógica dominante do "poder pelo poder" e de traição com o sonho do povo maranhense pela mudança concreta das práticas políticas no Estado mais pobre do Brasil.

O anúncio da "ruptura" do deputado Raimundo Cutrim (ex-PSD), que compunha a base de sustentação política da governadora Roseana Sarney Murad (PMDB) durante os quatro mandatos que ela exerceu à frente do Executivo maranhense, onde figurava como um dos membros mais influentes da "oligarquia Sarney", e sua ida para o Partido Comunista do Brasil no Maranhão é a prova contumaz do quanto a sigla partidária já não é mais a mesma.

Baseado em práticas cada vez mais oligárquicas, reflexo da repetição das estratégias adotadas por José Sarney nas eleições de 1965, Flávio Dino e o PCdoB rasgaram impiedosamente todos os manuais marxistas e leninistas do partido liderado no Estado pelo atual presidente da Embratur, em prol do objetivo maior e inolvidável: a conquista do comando do Governo do Maranhão.

Deputado estadual e ex-secretário de Segurança do Governo Roseana Sarney, Raimundo Cutrim é um dos maiores representantes de figuras políticas que almejam tão somente espaços de poder. Envolvo em brigas, discussões e acusações inimagináveis e de toda sorte com seu principal desafeto, o atual secretário estadual de Segurança Aluísio Mendes, Cutrim quer apenas voltar ao posto de comando das polícias civil e militar no Maranhão e mostrar ao grupo dos "sarneys" o quanto ele ainda tem pedigree eleitoral. Nesse sentido, nada mais oportuno do que abraçar a candidatura de Dino de olho na Secretaria de Mendes.

Na tentativa de mostrar força política aos "sarneys" e de olho na secretaria de Aluísio Mendes, "coronel" Cutrim vai virar comunista dinista

Para quem não sabe, Cutrim há algum tempo vinha sendo preterido pelo grupo Sarney, para o qual trabalhou e ajudou a tornar o Maranhão num dos Estados mais pobres, violentos e "atrasados" do país, em detrimento de Aluísio Mendes, que chegou a acusar e a investigar o deputado por suposto envolvimento no assassinato do jornalista Décio Sá (confira aqui).

Pode-se dizer que esse foi o pior desgaste enfrentado por Cutrim nos últimos meses, que viu sua imagem ser colocada em xeque por seu principal adversário sem receber o apoio político e midiático do grupo "oligárquico" que até ontem defendia com unhas e dentes na tribuna da Assembleia Legislativa.

Acusado de cometer grilagem no interior do Estado e de estar envolvido em esquemas de corrupção e de violência contra trabalhadores rurais e movimentos sociais, e aliado das grandes elites políticas e econômicas do Maranhão, Cutrim vai integrar a partir do próximo dia 14 de setembro as fileiras daqueles que lutam para tornar Flávio Dino, o "chefão do comunismo" (como dizem seus adversários), o novo "Libertador do Maranhão" (leia aqui).

Ao aceitar como membro integrante de seu quadro partidário alguém com a trajetória política como a de Raimundo Cutrim, tanto o PCdoB quanto o próprio Dino colocam em prática aquilo o que venho chamando atenção há algum tempo: a mudança política conversadora. Afinal, o assédio dos dinistas comunistas em torno de figuras políticas que sustentam a "oligarquia Sarney" e que são sinônimos do "atraso", não é novidade.

Zé Reinaldo, "ex-sarneysista", se tornou o padrinho político de Flávio Dino

Flávio Dino e o PCdoB/MA perceberam, oportunamente, que para chegar ao comando do Executivo maranhense e, assim, derrotar a já desgastada "oligarquia Sarney", devem se aliar aos mesmos outrora oligarcas. Foi assim em 2003, quando o então "sarneysista de carteirinha", o ex-governador José Reinaldo Tavares (PSB), eleito com o apoio total dos "sarneys", rompeu com a "grande família" e apadrinhou a entrada de Flávio Dino (então juiz federal) na política maranhense como suplente de deputado federal de um membro da "oligarquia Coutinho" de Caxias.

Aliás, a família Coutinho é uma das mais antigas "oligarquias" que se têm noticia no Maranhão, tanto quanto "os Sarneys", podendo mesmo ser traçada uma árvore genealógica de quantos membros da poderosa família ocupam (e já ocuparam) mandatos eletivos e cargos burocrático-administrativos na política maranhense.

Durante seu mandato de deputado federal, doado (mas não sem retribuição) pelos "Coutinho", Flávio Dino tornou essa "oligarquia" ainda mais forte política e economicamente no Maranhão. Dino destinou milhões de reais em verbas parlamentares para a cidade de Caxias (consultar o site da Câmara dos Deputados de Brasília), dominada pelo patriarca Humberto Coutinho e demais descendentes, como forma de "pagar" pelo mandato recebido de mão beijada e, ao mesmo tempo, transformar a terceira maior cidade do Maranhão numa espécie de seu reduto eleitoral.

Para além das alianças com a "oligarquia Coutinho", o próprio Dino flertou recentemente e inúmeras vezes com o ministro Edison Lobão (PMDB) em busca de uma aliança para derrotar a "oligarquia Sarney" (confira aqui), antes do anúncio do "velho lobo" de apoiar a pré-candidatura de Luís Fernando (PMDB) à sucessão de Roseana no Governo do Estado, "esquecendo-se" por alguns dias de que o oligarca Lobão é o braço direito de Sarney no Maranhão.

Correm ainda nos dias atuais o assédio incessante de Flávio Dino e o PCdoB em costurar uma aliança com o PSDB de João Castelo, o maior desafeto de Dino na eleição que levou Edivaldo Holanda Júnior (PTC), adversário do tucano apoiado pelo comunista, ao comando da Prefeitura de São Luís, desbancando a reeleição castelista.

Com a chegada do latifundiário Raimundo Cutrim às fileiras da "oposição" e do PCdoB para ajudar na eleição de Flávio Dino em 2014, cai por terra, definitivamente, o discurso da "mudança" pregado pelo comunista. A única mudança que Flávio Dino quer é a retirada de Roseana Sarney da cadeira de governador para que ele possa nela sentar-se confortavelmente, edificando seu nome na história política do Maranhão como aquele que um dia "derrotou a oligarquia", tal como Jackson Lago em 2006, mesmo se apoiando em "representantes do atraso" como Cutrim.

Flávio Dino: discurso demagógico e práticas oligárquicas, tudo em nome do poder

Mas, a bem da verdade, o que Flávio Dino e o PCdoB estão fazendo ao aliar-se às oligarquias e aos oligarcas que compunham as bases políticas da "oligarquia Sarney" é tornar cada vez mais demagógico seu discurso "mudancista", tornando menos confiável sua postura política, afastando de si todos aqueles que verdadeiramente sonham com a mudança de fato (e não de foto) no Maranhão, e, como subproduto disso tudo, abrindo espaço, ainda que inconscientemente, para o advento de outras candidaturas, mais condizentes com os anseios da sofrida e marginalizada população maranhense, cada vez mais sem opções políticas viáveis, confiáveis e coerentes.

Marx e Lênin devem estar se revirando no túmulo com os rumos que o PCdoB de Flávio Dino adotou para si em busca da tão desejada cadeira de Governador do Maranhão. Afinal, na luta do "poder pelo poder" vale tudo, até se abraçar com membros da "oligarquia Sarney", os "representantes do atraso" segundo definição do próprio comunista, e mentir para a população que se está lutando "em favor do povo".

Quando, na verdade, o que está em jogo é tão somente a conquista do poder.

6 comentários:

  1. O amigo émuito fantasioso a imaginar que exista comunista honesto. Lênim jamais fora um santo. Tão pouco Stálin. Estes dois estão se revirando nas suas tumbas e esquife. Mas de orgulho de um de seus mais promissor discípulo.

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    1. Não disse que os citados comunistas são "honestos", mas sim que seus ensinamentos manualísticos foram sumariamente jogados na fogueira.

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  2. Hugo, como bem falou, é uma demagogia muito grande a mudança propostas pelos Comunistas!
    A mudança é meramente de sigla partidária, os 'princípios' dos Anti-Sarneystas é similar a dos 'Sarneystas',... querem PODER por PODER, vislumbram somente os ganhos financeiros que teriam, caso ganhem as eleições!
    Pro PCdoB,vale tudo pelo Poder, até andar com aqueles que eles sempre classificaram como o atraso em nosso Estado!

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    1. Tudo em nome do poder!!! Eis a "mudança" pregada por Flávio Dino e seus aliados "comunistas", que o digam os oligarcas sarneysistas Raimundo Cutrim, Zé Vieira e demais "representantes do atraso".

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  3. É lamentavel… Na minha opinião estamos sem saída. Vamos continuar com os traficantes mandando no Estado, continuar perdendo nossos jovens pras drogas, e sem estudar para tornar o ESTADO DO MARANHÃO melhor! A falta de informação dos humildes deixa os pilantras no poder, porém nunca “O ESTADO DO MARANHÃO SAIRÁ DESSA LAMA, E POBRESA” (de um lado a CRUZ do outro a ESPADA) Estamos sem esperança esse estado continuará afundadando, parece que sempre seremos administrado por Máfia.

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    1. A falta de coerência entre práticas e discurso é muito grande. Os comunistas maranhenses se utilizam das mesmas artimanhas dos "sarneysistas" para chegar ao comando do poder estadual. "Mudança das práticas políticas", como eles cansam de falar, é só discurso demagógico, nada mais.

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Grato pela participação.