segunda-feira, 14 de outubro de 2013

LULA E DILMA SE AFASTAM DE SARNEY NO MARANHÃO

Petistas devem romper com a família Sarney no Maranhão para apoiar a candidatura de Flávio Dino (PCdoB) ao Governo do Estado


Como sempre faço todas as manhãs, levanto cedo e passo a vista nos jornais do Brasil e do mundo. E a matéria que mais me chamou a atenção nesta segunda-feira (14) foi a do jornal O Estado de S. Paulo, que destaca: "Lula e Dilma se afastam de Sarney no Maranhão".

Segundo o jornal, a decisão foi motivada após uma avaliação realizada, na semana passada, pela coordenação de campanha pela reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT), que decidiu ter chegado a "hora de o governo apoiar a eleição de Flávio Dino (PCdoB) no Maranhão". O objetivo é garantir um palanque forte para Dilma no estado, visto que o comunista lidera todas as pesquisas de intenção de votos para governador. Mas não sem "ameaças".

A matéria destaca ainda que a governadora Roseana Sarney (PMDB), que está em seu segundo mandato consecutivo, não poderá concorrer, e que o escolhido do grupo Sarney, o secretário estadual de Infraestrutura, Luís Fernando Silva (PMDB), não está bem posicionado nas pesquisas eleitorais.

Para finalizar a argumentação, o jornal infere que "o apoio a Dino poderá interditar qualquer costura local do PCdoB com o PSB para franquear palanque à dupla Eduardo Campos-Marina Silva".

O PT pretende romper com a família Sarney para evitar que Flávio Dino faça palanque para o PSB de Eduardo e Marina

Três aspectos a considerar do exposto acima. Primeiro, o poder que as pesquisas eleitorais possuem sobre os políticos é bastante considerável, apesar da existência de ressalvas também significativas, já que os pré-candidatos baseiam suas decisões em números que, muitas vezes, podem ser descaradamente manipulados em detrimento de um ou outro candidato, principalmente em relação ao "patrocinador" da pesquisa (confira aqui).

A segunda e principal observação se trata do fato da dupla Eduardo e Marina (PSB) ter se aproximado bastante de Flávio Dino no Maranhão. Inclusive, o presidenciável pernambucano já esteve em São Luís se reunindo com Dino e seus correligionários em busca de apoio para sua caminhada rumo ao Palácio do Planalto, o que despertou o "temor" de Lula e Dilma.

Para os petistas, não apoiar a candidatura do comunista para governador do Maranhão seria colocá-lo nas mãos dos socialistas, que já contam com "aliados certos" de Dino em suas fileiras, como os deputados estaduais Bira do Pindaré e Marcelo Tavares, o vice-prefeito de São Luís e pré-candidato ao Senado Roberto Rocha e o ex-governador José Reinaldo Tavares.

O terceiro elemento observável diz respeito ao fato da governadora Roseana Sarney não poder concorrer ao governo, por estar em seu segundo mandato consecutivo, somando quatro no total à frente do Executivo maranhense.

É nítido que o PT não pretende arriscar mais uma eleição apoiando um candidato que ainda não "decolou" nas pesquisas, caso do secretário Luís Fernando. Os petistas não querem cometer o mesmo erro de 2012, quando apoiaram o vice-governador Washington Oliveira (PT) para a prefeitura de São Luís, mesmo estando atrás em todas as pesquisas, e amargaram um minguado quarto lugar.


Contudo, a equação realizada pelo PT de apoiar um aliado histórico como o PCdoB no Maranhão carrega em seu bojo o tempero que poderá apimentar de vez a disputa estadual: a possibilidade de Marina e Campos fecharem uma aliança com Eliziane Gama (PPS), outra forte candidata ao governo do Estado.

Em pesquisas já realizadas, Eliziane aparece como a única capaz de liquidar a liderança pré-eleitoral do comunista (confira aqui). Tal fato já foi observado pela dupla socialista, principalmente por Marina Silva, que se aproximou bastante da deputada do PPS. Primeiramente, durante as tentativas de criação do Rede Sustentabilidade. E, depois da filiação ao PSB, quando Marina recebeu Eliziane em sua residência, em Brasília, na tentativa de costurar um acordo com a pepessista, como forma de se precaver da possibilidade de Flávio fazer palanque para Dilma no Maranhão.

Além disso, a declaração de apoio do PT ao PCdoB na esfera estadual pode acelerar uma nova aliança: entre o PPS de Eliziane e o PSDB de Carlos Brandão, presidente estadual da legenda.

Afinal, uma das exigências dos tucanos maranhenses é a de garantir uma aliança de acordo com a "grandeza" do partido, indicando o vice a governador e o candidato ao Senado na chapa de um dos governáveis.

Desejo este já sinalizado como palpável na candidatura de Eliziane e que ficaria inviável de ser realizado no conglomerado da oposição dinista, uma vez que a indicação ao Senado é precisamente o gargalo que impede uma "união das oposições", apesar dos mesmos alardearem-na constantemente em seus veículos midiáticos alinhados.

Por isso, é tolice pensar que o PT está se aliando ao PCdoB de Flávio Dino por desejar "retomar seu lugar no campo da esquerda maranhense". Isso é discurso estratégico propagandeado por marqueteiros e disseminado pelos "ideólogos pragmáticos" das duas legendas.

O que está em jogo é tão somente o desejo de manutenção do poder do governo petista de Lula e Dilma, que vê em Flávio o maior potencial eleitoral para vencer em 2014 no Maranhão, estado nordestino que forneceu à Dilma mais de 90% dos votos para presidente em 2010, mesmo sem a petista ter vindo fazer campanha em solo maranhense. Potencial este que os petistas não querem ver pulando para o lado dos socialistas Eduardo e Marina.

Mas, mesmo assim, a "ruptura" entre Lula e Sarney deve se processar apenas no Maranhão. Existe um acordo sendo costurado para que Lula mantenha o apoio a Sarney no Amapá, estado pelo qual o maranhense pretende se reeleger senador. O leitor atento não deve descuidar de que "para lá chegar", Lula precisou do apoio decisivo do PMDB de José Sarney em 2002.

Portanto, prezado leitor, não existe ninguém "inocente" numa disputa eleitoral, já que os objetivos de todos que fazem parte do jogo político-partidário é a conquista e/ou manutenção do poder. Para isso, vale todo tipo de acordo, até "romper" por um lado e garantir o mesmo apoio de outro.


Acompanhe, abaixo, a íntegra da matéria veiculada na edição desta segunda-feira (14) de "O Estado de S. Paulo":

Depois de prestigiar o poder do clã Sarney na política nacional e manter uma relação próxima nestes últimos 11 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff acertaram uma “traição cirúrgica” ao senador José Sarney e a sua família, que comandam o Maranhão há 50 anos.

Em reunião no Alvorada na quinta-feira passada, os coordenadores da campanha pela reeleição de Dilma concluíram que chegou a hora de o governo apoiar a eleição de Flávio Dino (PC do B) no Estado e garantir um palanque forte para a presidente no Maranhão. O presidente do PT, Rui Falcão, foi contra, mas foi voto vencido.

A própria dinâmica da política local guiou a decisão do grupo formado pelos ministros Aloizio Mercadante, o marqueteiro João Santana, o ex-ministro Franklin Martins, o presidente do PT, Rui Falcão, além de Lula e Dilma. A atual governadora, Roseana Sarney (PMDB), que está em seu segundo mandato consecutivo, não poderá concorrer.

O escolhido da família é o secretário de Infraestrutura do Estado, Luís Fernando Silva, que não está bem posicionado nas pesquisas eleitorais. Um palanque patrocinado pelos Sarney, na avaliação do grupo, seria contraproducente. O apoio a Dino poderá interditar, ainda, qualquer costura local do PC do B com o PSB para franquear palanque à dupla Eduardo Campos-Marina Silva.

O cenário é ruim para Roseana e para a reprodução do apoio do Planalto à governadora. Ela enfrenta problemas na disputa pela única vaga ao Senado em 2014. Seu principal adversário ao cargo, o vice-prefeito de São Luís, que é do PSB, está à frente nas pesquisas. Além disso, se Roseana deixar o governo para concorrer ao Senado em 2014, o vice-governador Washington Luiz Oliveira, do PT, assume o Estado. O clã Sarney considera que Washington não é completamente alinhado com a família e teme que ele não trabalhe com afinco para ajudar a eleger o escolhido para suceder à governadora.

O PT do Maranhão, por sua vez, está em crise desde 2010, porque foi obrigado a apoiar a reeleição de Roseana, quando queria se aliar a Flávio Dino. Houve intervenção de Lula no PT local e isso acabou enfraquecendo o partido, que perdeu muitos de seus integrantes.

Além disso, neste momento, o próprio PC do B está cobrando o Planalto que abra espaço para o nome de Dino porque o partido é um aliado tradicional do governo e tem no Maranhão o único Estado capaz de eleger um governador. Dino, que hoje preside a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), pode articular um palanque para o PSB ou PSDB no Estado se for rifado pelos petistas.

Colateral

O descolamento de Dilma e Lula de Sarney será, no entanto, cuidadosamente planejado para não produzir efeitos colaterais indesejados na aliança PT-PMDB em outros Estados. A ideia é circunscrever o rompimento ao Maranhão. Lula está disposto, por exemplo, a dar apoio a Sarney se quiser tentar a reeleição pelo Amapá.

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