terça-feira, 12 de agosto de 2014

ROBIN WILLIAMS E A "SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS"

Robin Williams (*1951 +2014)

Por Hugo Freitas

Ontem (11) fui dormir com a triste notícia de que o ator Robin Williams, de 63 anos, tinha sido encontrado morto em sua casa na Califórnia (EUA). A suspeita da polícia é a de que o ator tenha cometido suicídio por asfixia.

No mês passado, Williams havia voltado à clínica de reabilitação para tratar do vício em álcool. Ele vinha lutando contra uma depressão profunda nos últimos tempos.

Nascido em Chicago, no dia 21 de julho de 1951, Robin McLaurim Williams ficou famoso por interpretar o alienígena Mork na série de televisão 'Mork & Mindy' (1978). Depois de fazer sucesso com espetáculos de stand-up comedy, o ator ganhou papéis de destaque em diversos filmes dos anos 80 e construiu uma notável carreira no cinema.

Foi por sua atuação em 'Gênio Indomável' (1997) que Robin Williams ganhou o seu único Oscar, de melhor ator coadjuvante. Além do Oscar, Williams foi premiado com dois Emmy, seis Globos de Ouro, dois prêmios do Screen Actors Guild e seis Grammys por trabalhos de sucesso em filmes como 'Popeye' (1980), 'Uma Babá Quase Perfeita' (1993), 'A Gaiola das Loucas' (1996), 'Bom Dia, Vietnã' (1987), 'Sociedade dos Poetas Mortos' (1989), 'Tempo de Despertar' (1990) e 'O Pescador de Ilusões' (1991).

"Sociedade dos Poetas Mortos" (1989)

De longe, para mim, o filme "Sociedade dos Poetas Mortos" foi o melhor trabalho de Williams no cinema, onde ele deu vida a um professor de Literatura que tenta fugir do rígido modelo de ensino de uma tradicional escola inglesa, fomentando nos alunos o despertar de uma postura crítica e imaginativa diante do mundo social e das coisas da vida, para muito além do acúmulo de "conhecimento memorizado" cobrado em "avaliações desumanizadas", que privilegiam o conteúdo em detrimento do desenvolvimento humano que ele pode gerar.

Para mim, que também sou professor, nada mais "chocante" do que ver um docente em cima de uma mesa, recitando versos de Shakespeare, e estimulando os alunos a fazerem o mesmo como forma de relativizar o "sentido da vida", que é esculpido em nossas cabeças conforme a posição com que a enxergamos e da altura que a concebemos, numa perspectiva similar à do poeta lusitano Fernando Pessoa, que escreveu: "não sou da altura que me veem, mas sim da altura que meus olhos podem ver".

Outro aspecto "chocante" de "Sociedade dos Poetas Mortos" é a cena em que o professor vivido por Williams ordena aos alunos que arranquem a página de um livro onde consta a "definição geométrica" do que seria poesia, dada por um PHd em Literatura de Harvard, em que o "valor" de um poema seria mensurado não pela beleza e profundidade dos versos, mas por sua construção formal/simétrica.

Sem dúvida, uma das cenas mais "fortes" do cinema contemporâneo do ponto de vista filosófico, já que o próprio ato de se rasgar um livro é bastante polêmico, tendo em vista o fato de vivermos num mundo que dissemina e valoriza a cultura livresca cada vez mais como algo quase "sagrado". É como se o filme quisesse nos dizer: "Há livros para serem lidos, e outros para serem rasgados".

Robin Williams deixa esposa e quatro filhos.

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