terça-feira, 5 de agosto de 2014

SOBRE A "SABATINA NA TV GUARÁ" COM OS CANDIDATOS AO GOVERNO DO MARANHÃO

Flávio Dino foi o primeiro "sabatinado" e teve de responder sobre suas "polêmicas" alianças eleitoreiras

Por Hugo Freitas

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre quando a disputa eleitoral no Maranhão iria "esquentar pra valer" deve ter se saciado com o início da série de sabatinas com todos os candidatos ao governo do Estado proposta pela TV Guará, canal 23, de São Luís.

O primeiro a ser "sabatinado", na noite desta terça-feira (04), foi o candidato da Coligação "Todos pelo Maranhão", Flávio Dino (PCdoB). A primeira "estranheza" a ser ressaltada foi o fato do programa ter sido gravado, e não ao vivo, como os milhares de eleitores maranhenses esperavam. Afinal de contas, num programa gravado a "edição" é um recurso bastante utilizado pelas emissoras, o que diminui a sensação de espontaneidade dos candidatos diante das respostas, eufemiza a ligação direta entre os candidatos e o público eleitor e, consequentemente, o impacto das falas e das posturas dos mesmos junto aos telespectadores.

Um outro ponto a ser destacado nestas mal traçadas linhas foi a forma como os jornalistas presentes ao debate cumpriram "religiosamente" seus "papéis sociais", previamente definidos por seu "lugar de fala". O jornalista da emissora anfitriã - promotora da sabatina e, portanto, teoricamente "neutra" - fez uma das perguntas de cunho mais jornalístico que se poderia esperar, qual seja o descompasso entre encher hospitais de médicos através da proposta do "Mais Médicos estadual" e não ter medicamentos nem equipamentos para trabalhar.

Por sua vez, o repórter de "O Estado do Maranhão", de propriedade da família Sarney, apoiadora da candidatura de Lobão Filho (PMDB), principal adversário de Flávio Dino, fez as perguntas mais "embaraçosas" a este candidato, ao questioná-lo sobre as polêmicas alianças com ex-sarneysistas e tucanos como Aécio Neves e João Castelo (PSDB) e sobre a mudança de postura de Dino frente à PEC 37, que visava limitar o poder de investigação do Ministério Público.

Já o repórter do "Jornal Pequeno", abertamente favorável à candidatura de Flávio, fez as perguntas mais "confortáveis" ao comunista, que foi instado a falar sobre seu plano de governo, sem ser "espremido" sobre "como" irá colocá-lo em prática.

Contudo, o melhor da noite estava por vir. O "nó cego" da sabatina ficou por conta do jornalista de "O Imparcial", que questionou o candidato sobre uma suposta incongruência entre ser membro de um partido "comunista" e professar a "fé cristã".

Tal pergunta é a prova cabal do quanto ainda existem "jornalistas" despreparados para participar de um debate sério e propositivo, onde o que se deveria levar em conta são os problemas da população e o conjunto de alianças políticas, que diz muito sobre como será a composição do futuro governo, e não a intimidade da fé religiosa dos candidatos.

Além disso, na mesma linha de raciocínio, uma pergunta que polariza "Religião x Comunismo", em pleno ano de 2014, é tão retrógrada quanto o período a que ela remete, a saber a época da Guerra Fria e a divisão do mundo entre capitalistas liderados pelos EUA ("cristãos") e comunistas liderados pela extinta URSS ("ateus"). Vale lembrar que diversos estudos historiográficos descortinaram as estratégias midiáticas em voga que estigmatizavam o "comunista" dos anos de 1960 de "bicho-papão", "comedor de criancinhas", e por aí vai.

Um despropósito sem tamanho para os dias correntes, haja vista que até mesmo setores da Igreja Católica formularam a "Teologia da Libertação", uma aproximação ideológica entre preceitos do marxismo e do cristianismo que tem por base a "opção preferencial pelos pobres". O próprio Flávio Dino mencionou uma passagem bíblica onde Jesus fala de "comunhão" para esclarecer essa suposta dicotomia.

Em linhas gerais, o candidato Flávio Dino saiu-se muito bem em todas as perguntas, no tocante à forma e à postura, respondendo-as com eloquência e desenvoltura, mesmo as mais "espinhosas", não se esquivando de nenhuma.

Contudo, em termos de conteúdo, o fato de tentar se apropriar de programas federais já em curso para travesti-los com as cores do Maranhão sugere uma escassez de propostas que combatam, de fato e de frente, as graves mazelas da sociedade, quais sejam desemprego, analfabetismo, violência, miséria, fome, mortalidade infantil, abismo social entre ricos e pobres, dentre outros, ainda mais em se tratando de um candidato que viajou praticamente por todo o Estado com sua caravana "Diálogos pelo Maranhão".

Ao falar do "Mais Médicos estadual" e do programa "Água Para Todos no Maranhão", por exemplo, Flávio nada mais fez além de colocar, antecipadamente, a placa do governo estadual em programas do governo federal, prática política amplamente recorrente por estas maranhas.

Portanto, e em suma, apesar do script pré-fabricado e da falta de conhecimento sobre a reiterada "falsa polêmica" entre "Religião x Comunismo", que apenas comprova, por um lado, o grau de analfabetismo político de uns, e, por outro, o pragmatismo eleitoreiro do PCdoB, que em nada se difere de siglas como PT, PMDB e PSDB, no tocante à composição de alianças "polêmicas" e estratégicas em busca da conquista e manutenção do poder, que esfacela sua bandeira "ideológica", o pioneirismo da TV Guará em conceder espaço igual a todos os candidatos ao governo do Maranhão é digno de se tornar referência, já que tal postura é joia rara de se vê em outras emissoras locais, que privilegiam uns em detrimento de outros.

Acompanhe o Blog do Hugo Freitas pelo Twitter e Facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato pela participação.