Esgoto a céu aberto escorrendo dos prédios da "nobreza" ludovicense em direção ao mar
Por
Hugo Freitas
Estava
eu participando de atividades acadêmicas no interior do Piauí quando um colega
paulista, presente nas ações, comentou que seus amigos de São Paulo estavam
horrorizados com as cenas de uma "mancha negra" na orla de São Luís. Eles o
alertavam de que evitasse proximidade com as praias da capital maranhense.
Eis que
o colega de profissão, voltando-se para mim, pergunta: "Você já viu a
mancha de São Luís?". Surpreso, retruquei de imediato: "Que
mancha?". Foi então que vi, no celular do colega paulista, a mancha negra
numa badalada praia da capital maranhense; dejetos e esgoto escorrendo a céu aberto dos prédios da
"nobreza" ludovicense em direção ao mar.
A
mancha negra de São Luís já estava sendo "viralizada" nos grupos de
whatsapp e redes sociais como rastilho de pólvora.
Ao
deparar-me com a imagem, fiquei consternado. Olhei em volta e vi uma cidade
piauiense linda, limpa, organizada, urbanizada, bem iluminada (era noite)... e revirei
os olhos, já marejados, novamente para a imagem no celular do colega paulista...
A
consternação diante da mancha negra somou-se às outras manchas, especialmente
sociais, que assombram a capital maranhense diária e historicamente. Os títulos de "honraria" e distinção concedidos a São Luís por sua constituição ambiental, histórica e arquitetônica, como o de Patrimônio Cultural da Humanidade (1997) contrasta deveras crua e cruelmente com os alarmantes índices de violência, de analfabetismo, evasão escolar, baixíssimo Desenvolvimento Humano (IDH), escassa oferta de emprego, desigualdades sociais colossais, péssima distribuição de renda e concentração de poder político nas mãos de grupos familiares e/ou "oligárquicos", como queiram.
Moro em São Luís e não pretendo tão cedo mudar de
minha terra. Para mim, nada é mais reconfortante do que voltar à esta morada depois
das inúmeras e cansativas viagens impostas pela atividade profissional que
abracei com o mesmo amor que sinto por estas maranhas.
Mas é
inegável que a imagem da mancha negra numa praia de São Luís, cujo litoral, um
dos mais extensos e belos do país, carrega nos ombros a triste realidade de ter
suas praias impróprias para o banho e o lazer, é o espetáculo fétido que
impregna os olhos tanto de quem aqui reside, quanto de quem visita a outrora epitetada "Atenas Brasileira".
Se um
dia, de fato, fomos chamados de "gregos", nada mais oportuno
recorrermos à situação sócio-econômica vigente dos mesmos para afirmarmos, sem
sombra de dúvidas, que esta cidade vive, há tempos, uma "tragédia grega".
A imagem
"manchada" de São Luís é apenas a ponta do iceberg que expressa bem
isso.
As muitas outras manchas existentes, aqui brevemente elencadas, acabam sendo mais invisíveis aos olhos dos insensíveis, cuja falta (proposital?!) de percepção contribui para a manutenção desse sofrível status quo, inglório e indigno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela participação.