terça-feira, 15 de março de 2016

Dia Nacional da Poesia é celebrado com homenagem a Nauro Machado

Nauro Machado (* 02/08/1935 + 28/11/2015)

Em solenidade realizada no Convento das Mercês, nesta segunda-feira, 14 de março, Dia Nacional da Poesia, o poeta Nauro Machado (in memoriam) recebeu nova e merecida homenagem.

O tributo contou com o descerramento de placa em um espaço, no térreo do Convento, que passou a ser chamado “Auditório Casa do Poeta Nauro Machado”. O evento teve, ainda, momento de bate papo com artistas, amigos, estudantes e admiradores da obra do poeta. Eles contaram histórias de Nauro e declamaram alguns de seus mais belos poemas.

Vida de Nauro Machado

Nascido em São Luís do Maranhão a 02 de agosto de 1935 e falecido no dia 28 de novembro do ano passado, Nauro Diniz Machado construiu uma obra literária das mais respeitáveis dentro do contexto da Literatura Brasileira contemporânea.

Sempre morando na capital maranhense, com pequena passagem pelo Rio de Janeiro na década de 50 do século passado, ele se ombreia aos seus companheiros de geração, como Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi.

Filho de Torquato Rodrigues Machado e de Maria de Lourdes Diniz Machado, casado com a escritora Arlete Nogueira da Cruz, teve um filho, Frederico Machado, cineasta e entusiasta da obra do pai. Sua biografia se confunde com sua criação poética, e o escritor tem exercido, com frequência, influência marcante sobre os novos poetas maranhenses.

Habitando a cidade e por ela sendo umbilicalmente absorvido ao longo de suas peregrinações etílicas e notívagas, assim como no percurso de suas caminhadas silenciosas pela orla das praias ou pelas ruas estreitas de São Luís nas quais gestava e ruminava seus poemas, o poeta se desvela a si mesmo:

“Meu espaço geográfico, restrito à cidade de São Luís, fornece aos poemas que desenvolvo como catarse existencial de temas quase sempre vividos, a atmosfera temporal de uma cidade a internalizar-se na ficção (como diria Fernando Pessoa) biográfica dos meus variados temas. São Luís, queiram ou não queiram alguns críticos desavisados da minha poesia, está transfigurada totalmente nas metáforas que eu diria datadas dos meus versos”, elucida Nauro Machado.

Publicou seu primeiro livro, “Campo sem Base”, em 1958. A partir daí, foram dezenas de títulos, sendo “Esôfago Terminal”, lançado em 2014, sua última obra, na qual o poeta reflete sobre experiência com o câncer que veio a desenvolver. Traduzido para o inglês, francês e alemão, Nauro Machado foi agraciado com honrarias e prêmios, incluindo o oferecido pela Academia Brasileira de Letras.

“A poesia, para mim, é uma necessidade interior, um caso de vida ou morte e não um simples pretexto para malabarismos vazios ou teoremas que digam respeito apenas a um modismo falho e de autenticidade duvidosa”, escreveu Nauro.

"Esta é a primeira homenagem que fazemos ao poeta, após sua partida, e que será sucedida por tantas outras que faremos ao longo dos próximos meses e anos; é necessário que se tome consciência, cada vez mais, acerca do alcance profundo que Nauro Machado impôs à sua obra, e da contribuição ímpar que deixou como legado permanente à Literatura brasileira”, declarou Paulo Melo Sousa, diretor do Convento das Mercês, articulador da homenagem.

Poemas de Nauro Machado

Radiação

Eu vi a glória nos lábios da eternidade.
Eu vi o universo inteiro na angústia do fogo
Pelo canto noturno, em galés da alvorada,
Eu vi os farrapos trêmulos da última estrela.


819

Abre-me as portas, mãe, enquanto as estrelas
buscam em mim agora a treva infinda,
sem luz alguma no meu olhar a vê-las
nessa cegueira a ser da altura vinda.
Assim, mãe, invado tua noite, a sabê-las
eternamente em pó na luz que é finda
só para mim, que vou comigo pelas
manhãs nascendo todas cegas ainda.
Como fazê-las ser de novo vivas?
Como, se nunca delas fui um conviva
às vidas feitas festas para as vistas?
Para arrancá-las da morte onde as pus,
quero essa noite, ó mãe, roubada à luz
do céu que, embora cega, tu conquistas.

Siga nosso perfil no Twitter e curta nossa página no Facebook

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato pela participação.